Me lembrei do nosso primeiro passadão. Antes de começar, fui passar um café em casa (por isso é bom ensaiar na sala do play do seu prédio) e no caminho o porteiro me entregou uma encomenda que chegara do correio. Abri, era a Emily Dickinson/Poemas Escolhidos que nosso tradutor havia nos indicado. Levei o livro pra sala, chamei o Pio num canto e abrimos uma página, aleatoriamente, para lermos antes de começar o espetáculo.
O poema que saiu foi esse:
Do Drama, a mais viva expressão é o dia comum,
Que nasce e morre à nossa vista;
Diversamente, a Tragédia,
Ao ser recitada, se dissipa
E é melhor encenada
Quando o público se dispersa
E a bilheteria é fechada.
“Hamlet” seria Hamlet,
Inda que Shakespeare não o criasse,
E “Romeu”, embora sem mais lembranças
De sua Julieta,
Seria perpetuamente encenado
No coração humano –
Único teatro que, sabidamente,
O proprietário não consegue fechar.
(Emily Dickinson)
Desde então passamos a carregá-lo conosco.
Este poema de Emily deveria estar inscrito nos frontispícios de todos os teatros do mundo, de todas as escolas de teatro do globo. É aterradoramente belo. Nelson tem total razão: só os profetas enxergam o óbvio. Aleluia!
ResponderExcluirÉ belíssimo mesmo, Francisco. Incrível. Aterrador, realmente. E mais que isso.
ResponderExcluirg.
a Tragédia,
ResponderExcluirAo ser recitada, se dissipa
E é melhor encenada
Quando o público se dispersa
E a bilheteria é fechada.
É por isso que fazemos teatro. Para dissipar as tragédias da vida . Lindo poema.
Muita sorte pra vocês.
Abração, André. Obrigada!!
ResponderExcluirGlauce.